Ceuso

 Caos no Barco do Preta


O sol tava de matar, parece até que o rio virou um forno natural. O barquinho de alumínio balançava sem pressa, quase que se arrastando pelas águas barrentas, e a galera tava ali, já faz uns dias, na missão de pescar e beber como se o mundo não existisse. Todo mundo tava de boa com o cheiro de peixe podre, suor e cerveja quente, exceto eu. E eu tava numa guerra travada, mano, coisa de filme de terror.


Eu sou o Preta, o "azarado" da turma. E pra completar meu quadro, fazia três dias que eu tava lidando com a caganeira mais cruel da minha vida, vômito, suadeira, parecia que eu tinha comido um baiacu mal passado. E pra piorar ainda mais a situação, o barco não tinha banheiro. Ou seja, eu tava praticamente vivendo uma luta corporal contra meu próprio corpo, no meio do nada, sem nada.


De repente, o intestino gritou de novo, e o negócio ficou insuportável. Com a barriga em péssimo estado e o rosto deformado de agonia, não deu outra. Olhei pros caras e falei, num tom de desespero:


— Não dá mais, galera… Eu vou ter que ir agora!


Antes de alguém falar alguma coisa, eu não aguentei e dei um pulo no rio, sem muita cerimônia. A água explodiu pra todo lado, e a risada da turma cortou o silêncio. Eu flutuei ali, me segurando na corda, um alívio indescritível na cara e a cueca branca boiando de forma patética na minha cintura.


Foi aí que Dudu, o mais sacana de todos, pegou o celular.


— Oooo Preta tá cagando no rio! Olha isso, meu irmão! — ele gritou, todo animado, enquanto os outros começavam a rir que nem doidos.


Eu fiquei ali, segurando a corda, sem saber se morria de vergonha ou de raiva.


— Ô, Dudu, tá maluco? Você tá me filmando cagando, véi?


Ele, sem perder a piada, ainda disse, rindo:


— Relaxa, pô! É só entre os amigos. Vai ficar famoso no grupo do zap!


Eu olhei de novo e vi o zoom que ele fez na minha cara, com aquela expressão de agonia que eu queria esquecer, mas agora tava ali, registrada. O que mais me restava fazer? Fui me afundando na humilhação até que, finalmente, o tormento passou.


Quando terminei, nadando de volta pro barco, parecia que eu tinha acabado de ganhar uma maratona. Subi com a água pingando por todo lado, um troço triunfante.


— Rapaz… que alívio da porra. Cagão gostoso demais!


Os outros começaram a gritar, bater palmas, parecia que eu tinha feito um gol na final da Copa. Mas antes do Dudu desligar o vídeo, eu dei aquele olhar desafiador pra câmera, sem pensar duas vezes. E aí, com toda a minha energia, meti uma pegada firme no próprio pênis, tipo provocação mesmo.


— Tá aí, pra vocês que gostam de filmar os outros cagando! — eu falei, sem nenhum tipo de vergonha.


A gravação se encerrou ali, no meio dos gritos e gargalhadas. E no fundo, ainda ouvi um "Mermãooooo!" vindo da turma. E assim, fui derrotado, mas vitorioso, de um jeito que só eu mesmo entendo.


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