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ChatGPT
Você disse:
O ChatGPT disse:
Claro, posso ajudar a reescrever o texto com essas nuances, mas mantendo o tom literário e respeitoso ao estilo original. O objetivo aqui será explorar a tensão entre dois personagens que compartilham desejos não admitidos, revelados por meio de gestos, olhares e linguagem corporal, sem tornar a narrativa caricata ou explicitamente sexual.
– Hermes... ― O rebenque estalou contra a madeira gasta da mesa.
Ele repetiu mais alto, quase gritando, quase com raiva:
― Eu chamei Hermes. Quem é esse aí?
Avancei do fundo da sala.
— Sou eu.
— Sou eu, meu sargento.
— Repita.
Os outros olhavam, nus como eu. Só se ouvia o ruído das pás do ventilador girando enferrujadas no teto, mas eu sabia que riam baixinho, cutucando-se. Por trás dele, a parede de reboco descascado, a janela azul-marinho aberta sobre um pátio onde os cinamomos pareciam derreter na tarde.
As folhas nem se moviam. As moscas, tontas de calor, batiam umas nas outras. O cheiro de cavalo, suor, merda e medo impregnava tudo. Mais nu que os outros, eu: parado no centro. O suor me escorria dos sovacos e um medo maior: a pele que pinicava embaixo, o sangue que teimava em ir onde não devia. Meu corpo me traía.
— Ficou surdo, idiota?
— Não. Não, meu sargento.
— Meu sargento.
— Meu sargento.
— Por que não respondeu quando eu chamei?
— Não ouvi. Desculpe, eu…
— Não ouvi, meu sargento. Repita.
— Não ouvi, meu sargento.
O olho verde dele brilhou, um brilho afiado, quase divertido. Uma pausa antes de atacar. Eu começava a odiar aquele bigode — ou talvez só temer o que ele escondia. Era grosso como uma sombra, uma coisa que escorria da cara, e me fazia lembrar um sonho antigo, abafado, com um homem que eu nunca via inteiro.
— Tem cera nos ouvidos, pamonha?
Risos. Agora mais soltos. Uma risada banguela ali, um saco murcho acolá. Mas eu sentia o peso daquilo: não era só zombaria. Era excitação. Um prazer quieto em ver os outros nus, submissos, imóveis, expostos.
— E no rabo?
A risada engasgou. Quase ninguém respirava. Eu vi o alemão tremer com a costela quebrada. O crioulo olhou o chão. E eu, parado, com medo de mexer as pernas — com medo que o sangue denunciasse.
— Não, meu sargento.
— E não pisca, bocó. Só quando eu mandar.
Veio andando até mim. O rebenque na mão. A camiseta branca manchada de suor sob os braços peludos. Havia algo no modo como ele se aproximava, algo que os outros não percebiam: um cálculo lento, demorado, um olhar que passeava com fome.
O couro estalou perto da minha cara, mas desviou. Acertou as botas. Estremeci.
Ele viu. Sorriu.
Me senti mais nu que nunca, mais fraco que nunca. Mas ao mesmo tempo... o olhar dele me pegava inteiro. Lento. Exato. Como se me conhecesse antes mesmo de eu nascer.
— Está com medo, molóide?
— Não, meu sargento.
— É daqueles bem-educados, é? Pois se te pego num cortado bravo... tu vai ver o que é bom.
Ele não precisava dizer mais nada. A ameaça era só a superfície. O que estava ali, por baixo, era pior. Era o desejo que nem ele sabia nomear. O desejo que ele odiava nos outros. E em si.
— Sen-tido!
Estiquei a coluna. Senti que os braços não eram mais meus, que o corpo era só um invólucro que podia me denunciar a qualquer segundo. Qualquer toque. Um olhar mais longo. E tudo se revelaria.
Ele pisou o cigarro com força. Voltou para a mesa. Me encarou de novo. Lento. Estudando.
— Então tu é que é o tal de Hermes?
— Sim, meu sargento.
— Tem certeza?
— Sim, meu sargento.
— De onde tirou esse nome?
— Não sei, meu sargento.
Ele sorriu. Aquilo não era um sorriso. Era um desafio.
E eu percebi — ele sabia. Tudo. Desde o começo. Talvez soubesse desde que eu entrei na sala. Ou antes. Talvez tenha olhado a minha ficha com mais atenção que as outras.
— Pois, seu Hermes, tu tem pé chato, taquicardia, pressão baixa? Arrimo de família também?
— Sim, meu sargento.
Mentia, mas ele deixou passar. Estava me testando. E havia alguma coisa nos olhos dele — não era ódio, nem desprezo. Era curiosidade. Um reflexo. Um reconhecimento.
— E vai fazer o quê? Engenharia? Direito? Medicina?
— Filosofia, meu sargento.
O silêncio pesou. Os outros olharam. Esperavam que ele me ridicularizasse, como sempre fazia. Mas não. Ele só me olhou. Longo. Firme.
Talvez tenha se visto em mim, num tempo antigo, antes de endurecer. Antes de virar essa casca de couro e comando.
Ele acendeu outro cigarro.
— Pois, seu filósofo, o senhor está dispensado de servir à pátria.
— Pode se vestir.
E antes de eu sair:
— E vocês, seus analfabetos, aprendam com o moço. Pelo menos ele pensa. E vocês? Só sabem mijar em pé.
Saí. O corpo leve. O coração ainda correndo.
Atrás de mim, o rebenque estalou de novo na bota.
— Sen-tido! Pensando que isso aqui é o “cu-da-mãe-joana”?
Mas a voz dele não soava tão firme como antes.
Se quiser, posso fazer uma continuação ou adaptar esse texto para outro gênero (teatro, roteiro, conto introspectivo etc.). Deseja isso?
Você disse:
O ChatGPT disse:
Perfeito. Abaixo está a reescrita do conto, agora focada na perspectiva interna do sargento — com seus pensamentos, hesitações, recalques e conflitos — revelando um homem endurecido pela função, mas abalado pela presença de Hermes. A tensão entre repressão e desejo agora se desloca para dentro dele. Mantém-se o clima opressivo e denso do texto original, mas revelando a alma do carrasco.
– Hermes...
Estalei o rebenque contra a mesa, o couro seco batendo madeira velha. Um estalo só. Mas bastava.
Repito mais alto, já quase gritando, já quase com raiva:
– Eu chamei Hermes. Quem é essa lorpa?
Queria ver quem era. Queria confirmar se era ele. Aquele nome estranho tinha ficado na minha cabeça desde a ficha. E eu sabia — sabia que tinha algo ali. Naquele nome. Na foto. No jeito.
Ele avançou do fundo da sala. Tímido. Pelado. Branquelo.
Bonito.
Merda.
— Sou eu.
A voz fina. Insegura. O pescoço comprido, o peito liso. Vi os outros homens olharem, rindo de canto de boca, cutucando-se. Alguns excitados. Todos pelados. Suando. Um curral de gado humano.
Mas ele — ele era diferente.
— Sou eu, meu sargento.
Mando repetir. Gosto de ouvir.
Ele repete. Com mais força agora.
As pás do ventilador chiavam ferrugem no teto, mas eu só ouvia a própria respiração. E a dele. Ofegante. Aquele cheiro misturado de cavalo, suor, poeira e mosca. E por baixo, um cheiro outro — medo. Quente. Molhado.
A sala inteira fedia à carne viva. Mas nele o cheiro era outro. Como jasmim nascido no brejo.
E eu odeio isso.
Odeio ele por isso.
— Ficou surdo, idiota?
Ele treme. Gosto disso.
O olho dele desvia. Tenta manter o respeito, mas é como se me pedisse alguma coisa que ele mesmo não entende.
A cara dele me irrita.
Ou me atrai. Não sei.
— Por que não respondeu quando eu chamei?
“Não ouvi, meu sargento”, ele diz.
A voz falha.
Reprimo o riso.
É fraco. Delicado. Um erro aqui dentro. Um deslocado. E ainda assim...
— Tem cera nos ouvidos, pamonha?
Riso geral. Isso os distrai. Me dá tempo.
Olho os homens. O crioulo, o alemão — todos rindo. Mas sei que estão aliviados. O alvo é outro.
Hoje o alvo é ele.
— E no rabo?
A tensão cresce. Segundos sem som. Depois os risos voltam, estridentes.
Quero ver se ele treme.
E ele treme.
Mosca passa no rosto dele. Pisca. Eu aviso:
— Não pisca, bocó. Só quando eu mandar.
Começo a andar em direção a ele.
Quero vê-lo de perto. Sentir se o cheiro é real. Ou coisa da minha cabeça.
O rebenque vai até o rosto dele, mas não encosta. Desvio no último instante. Acertei minhas próprias botas. Quase ri.
Ele estremece de novo.
A bunda branca dele trêmula à minha frente. Ridícula.
Excitante. Merda.
Sinto a mandíbula travar. O rebenque dança de novo no ar. Não bato. Não ainda.
O retrato de Castelo Branco na parede parece me julgar. Que se dane.
— Está com medo, molóide?
Ele responde, hesita. Olho bem de perto.
A pele suada dele, os pelos finos, o cheiro.
A vontade que dá é de rasgar tudo. Ou de ir embora.
Por que eu me importo com esse moleque?
— Sen-tido!
O corpo dele enrijece. Gosto de ver.
Cada músculo tensionado. O medo apertando por dentro. A vergonha escorrendo das axilas.
Já vi muito homem nu. Mas esse... esse me olha como se me visse.
Pisoteio o cigarro. Cuspo no chão.
Volto pra mesa. Mas não tiro o olho dele.
— Então tu é que é o tal de Hermes?
“Sim, meu sargento.”
Responde certo. Mas não convence. Há uma coisa naquela resposta. Uma coisa que me olha de volta.
— Tem certeza?
Ele afirma de novo.
E eu fico pensando naquele nome. Hermes. Mensageiro. Alado. Delicado. Sem lugar aqui. Aqui é pra bruto. Pra animal.
E ele não é.
— Mas de onde tirou esse nome?
“Não sei, meu sargento.”
Mentira. Claro que sabe. Todos sabem de onde vêm. Só não têm coragem de dizer.
E eu sorrio. Um meio sorriso.
Quero ver até onde ele aguenta.
Testo. Provoco. Jogo as perguntas como quem afia faca.
Pé chato. Taquicardia. Arrimo de família. Pressão baixa.
Mentirosinho bom.
Mas está se salvando.
E eu deixo.
— Vai fazer o quê? Engenharia, medicina?
“Filosofia, meu sargento.”
Silêncio.
Aquilo bate fundo.
Filosofia.
Quase deixo escapar um riso de verdade.
Vai acabar morando num quarto cheio de livro e dúvida. Que nem eu. Mas sem farda.
Acendo outro cigarro. Mãos firmes. Ninguém pode ver o que penso. Nem ele.
Espio a tarde lá fora. O céu tingido de sangue, quase roxo, o sol se despede no Guaíba.
Volto o olhar pra ele. O olhar fixo. Agora firme.
Se eu fosse outro homem...
Mas sou esse. Fardado. Com rebenque na mão.
— Pois, seu filósofo, o senhor está dispensado de servir à pátria.
Porque a pátria não sabe o que fazer com gente como você. Nem com gente como eu.
— Pode se vestir.
Viro-me pros outros.
— E vocês, seus analfabetos... aprendam. Um dia ele vai sair filosofando por aí. E vocês vão morrer pastando.
Ele sai. Devagar. Passo leve.
Folha na brisa.
E eu assisto. Até sumir na porta.
O cheiro dele ainda no ar.
Levanto o rebenque.
Estalo contra a bota. Forte.
— Sen-tido! Estão pensando que isso aqui é o cu-da-mãe-joana?!
Mas a frase sai oca.
E eu sei que, hoje, perdi alguma coisa.
Se quiser, posso desenvolver uma versão ainda mais longa ou aprofundar o passado do sargento, explorando mais essa repressão ou uma história de juventude. Deseja isso?
Você disse:
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