Causo
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Sabonete no Chuveiro
O jogo tinha acabado fazia pouco. Quinze brutamontes, cobertos de lama da cabeça aos pés, cambaleavam rumo ao vestiário. Cada passo era pesado, mas o orgulho de quem havia dado tudo em campo mantinha os ombros eretos.
— Cara, nem acredito que ganhamos — resmungou o Zeca, puxando o capuz da blusa suja para o rosto, tentando esconder a fadiga.
— Foi duro, mas a gente fechou a defesa no segundo tempo — respondeu o Léo, sorrindo cansado.
Eles se amontoaram no corredor, cada um ansioso para se livrar daquela sujeira e sentir a água quente lavando a pele, e talvez, por um momento, as preocupações do mundo.
No vestiário, 14 já estavam sob os chuveiros coletivos — rindo, se cutucando, comentando a partida.
— Ei, moleque! — chamou o Rafinha, estendendo a mão para o último que chegava nu, um sorriso aberto.
— Chega aí, irmão — disse o Bruno, com aquele tom de quem já era de casa.
O jogador número quinze entrou com a confiança de quem sabia que ali, entre homens, não precisava de vergonha. Só o barulho da água batendo nos corpos e risadas soltas.
Foi então que aconteceu.
O sabonete escapou das mãos dele e caiu no chão, deslizando até repousar, imóvel, entre os azulejos molhados.
Um silêncio cortante tomou conta do vestiário.
Os olhares de todos se voltaram para aquele pequeno objeto que, naquele instante, parecia um desafio maior que qualquer adversário enfrentado no campo.
— Quem vai pegar? — pensou o Daniel, seu coração batendo rápido.
— Não posso ser eu... não hoje — pensava o Beto, já sentindo um nó no estômago.
— Se eu me abaixar, vou ficar exposto... e os caras vão zoar pra sempre — passou pela cabeça do João, travado.
O silêncio só aumentava o desconforto, cada segundo se arrastando como uma eternidade.
No fundo, o último jogador observava tudo, com um sorriso meio tímido.
De repente, sua imagem parecia se transformar. A pele enrugava, os cabelos brancos apareciam, o corpo curvava-se levemente — como se o tempo lhe concedesse um conselho.
"Calma, garoto", parecia dizer aquele reflexo no espelho.
Ele se abaixou lentamente, mas não tocou o sabonete com as mãos.
Em vez disso, pegou suas chuteiras do canto do vestiário, colocou-as com cuidado.
— Vamos ver se isso resolve — murmurou ele, com um brilho travesso no olhar.
Com um movimento preciso e surpreendente, usou o pé calçado para empurrar o sabonete para perto, pegando-o sem precisar se curvar completamente.
Os outros, atônitos, não resistiram.
Uma gargalhada coletiva explodiu no ambiente.
— Esse sim sabe das coisas! — brincou o Zeca, batendo no ombro do veterano.
— Tá vendo? Às vezes o jeito é pensar fora da caixa — respondeu o velho, agora de volta à sua forma normal, sorrindo satisfeito.
A tensão evaporou, o calor do momento transformou-se em camaradagem.
Mais do que um jogo duro ou um banho coletivo, eles celebravam ali a amizade, o respeito e aquela sabedoria que só o tempo dá.
Do lado de fora, a Isenbeck Lager gelada os esperava — pronta para brindar a vitória, as histórias, e, claro, os momentos únicos que só um time pode viver junto.
Quer que eu adicione mais algum detalhe? Talvez o que cada jogador pensa após esse episódio? Ou um desfecho com uma conversa no bar?
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