Causo

 

Vestiário dos Rústicos – Parte 3: Entre Risas e Rituais

O episódio da Dra. Beatriz virou lenda no vestiário dos rústicos. Por semanas, o assunto dominou as conversas: a supervisora fugindo com os olhos lacrimejando, o tablet balançando e a dignidade tentando respirar em meio ao gás mortal de Odair.

Mas ali, entre paredes descascadas, bancos de madeira estalando e o eterno zumbido do ventilador cansado, a vida seguia seu curso natural.

A rotina do vestiário tinha seus rituais sagrados.

06h55 – A Chegada dos Rústicos

Ricardo era o primeiro a chegar. Botinas sujas, café na mão e cara de quem dorme com um olho aberto. Ele jogava a mochila no canto, estalava o pescoço e dizia sempre a mesma frase:

— Mais um dia no spa da Santa Casa...

Odair vinha logo depois, já mascando alguma coisa e de olhos apertados. Bastava olhar pra ele e já saber que, em no máximo 20 minutos, o banheiro seria interditado pela própria natureza.

João, o Tripé, chegava cantarolando. Sempre de bom humor, brincava com todo mundo, puxava papo até com o espelho. Quando passava de toalha, os mais jovens desviavam o olhar — e os mais antigos fingiam não ver, mas cochichavam depois.

E Lucas... ah, Lucas.

Amendoim

Amendoim era o mais novo do grupo, funcionário da coleta, loirinho, magro e hiperativo. Seu apelido já estava consolidado, embora ele não gostasse muito de lembrar a origem.

Ao contrário do que muitos achavam no início, Amendoim não era um apelido “elogiativo”. Muito pelo contrário. Um certo dia, após o banho, alguém (provavelmente o João) soltou:

— Rapaz... teu negócio aí parece um amendoim jogado no deserto. Cadê o resto?

Depois disso, pegou.

Lucas tentou negar, tentou ignorar, tentou até mudar de roupa de costas. Mas no vestiário dos rústicos, não tem volta. Ali, apelido é destino.

— Ô, Amendoim, segura essa toalha aí que tem vento! — gritava Ricardo, só pra causar.

— Se bater uma brisa, você vira Ken, hein? — completava Odair, entre risos.

Lucas, com o tempo, aprendeu a rir junto. Já sabia que quem sobrevive ali, sobrevive em qualquer canto.

O Vestiário é Democrático

Além dos quatro, outros personagens frequentavam o espaço:

  • Claudinei, o Filosofal: Um auxiliar da limpeza que citava Sócrates enquanto passava desinfetante no chão. Ninguém sabia se era sarcasmo ou loucura.

  • Marquinhos, o Silencioso: Um motorista que ninguém nunca ouviu falar. Literalmente. Três anos de casa e só mexia a cabeça em sinal de “sim” ou “não”.

  • Pedro, o Playboy Fracassado: Um porteiro metido a modelo, que usava perfume importado até pra tomar banho. Era o único que levava sabonete líquido em frasco de vidro.

Todos conviviam numa espécie de caos funcional. As zoeiras voavam como socos de boxe, mas existia um código invisível de respeito. Ali, ninguém era melhor que ninguém — nem mesmo o Tripé.

O Código dos Rústicos

Apesar da zoeira pesada, havia algumas regras tácitas no vestiário:

  1. Não se mexe no sabonete alheio.

  2. Se sujou o vaso, limpa.

  3. Odair tem prioridade no banheiro entre 07h e 09h. É lei biológica.

  4. Quem zoa, ouve também. Ninguém é intocável.

Foi esse código que manteve a paz, mesmo quando Lucas, no auge de uma manhã mal-humorada, jogou a toalha no chão e gritou:

— Já deu esse papo de amendoim, pô! Não aguento mais!

João respondeu com a calma de um monge:

— Irmão... aqui todo mundo tem seu apelido. Quer trocar? A gente vê o que cabe.

Silêncio. Todos olharam. Até Claudinei parou de citar Platão.

Lucas pensou. Respirou. Pegou a toalha de volta.

— Melhor deixar assim mesmo.

E o vestiário explodiu em gargalhadas.


[Continua...]

Se quiser, o próximo capítulo pode ter uma crise (como um vazamento de esgoto, uma greve de chuveiro, ou a chegada de um novato que vira o grupo de cabeça pra baixo). Quer seguir por esse caminho?


O ChatGPT pode cometer erros. Considere verificar informações importantes.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Causo

c

Conto