Causo

 um espírito que também sofreu no Comenesp

No ermo das montanhas silvovastas,
Lá onde o Wi-Fi morre e o Eu desperta,
Um bando de almas tímidas, incertas,
Buscava a luz em trilhas tão nefastas.

Ali, no Comenesp tão sonhado,
Jejuam corações em penitência,
Largam o mundo em dócil abstinência,
E o peito expurga o vício enraizado.

Mas eis! Segundo dia. Hora do almoço.
Silêncio. Oração. O arroz rebrilha.
Frango ensopado dança na morcilha,
E o suco esconde o hálito do moço.

Tudo era paz… Mas dentro do intestino,
Nos labirintos negros do jejuno,
Formava-se um exército oportuno
De gases, cólicas e um cruel destino.

Oh, triste enzima! Férreo catalisador
Da dor oculta em cada epitélio,
Foste a faísca! O estopim! O prelúdio etéreo
Do que viria em forma de terror.

Não mais retiros, preces ou perdões —
O que se ouvia em cada canto estreito
Eram gemidos, súbitos dejeto
E peidos feitos em comunhão de irmãos!

Um peido aqui — ressoa outro acolá!
Sinfonia do reto em sua má sorte,
Onde a descarga é verso e contra a morte
Cada descarga é como um salmo irá!

Banheiros lotam! O papel se esgota!
O trono vira púlpito de pranto!
E os gemidos, em cólera e em espanto,
São hinos duma alma que se esgota!

Eu vi! Eu fui um deles! Fede a culpa!
Fede a carência espiritual e gástrica!
E o pobre corpo — essa matéria plástica —
Transborda a dor que a consciência oculta.

Ah, Comenesp! Retiro ou purgatório?
A alma se eleva enquanto o ânus chora!
Um pum responde ao pum de cada hora,
E cada trono é um pútrido oratório.

E quando a noite enfim desceu do céu,
E a lua viu, de longe, aquela cena,
Até o cosmos sentiu aquela pena,
E os astros se esconderam sob o véu.

No fim, nos perdoamos entre os gritos,
Sabemos: cada um tem sua miséria.
Não há retiro sem alma funérea,
Nem gás que escape isento dos conflitos.

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Se quiser, posso fazer uma versão mais leve e engraçada, ou até um relato em prosa surreal, como se fosse um diário de um dos participantes. Deseja continuar nessa linha ou mudar o estilo?