Causo
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Meu nome é Eduardo, tenho 45 anos, sou clínico geral há mais de 20. Já vi de tudo nessa vida, e aprendi, com o tempo, que tão importante quanto a medicina é a escuta e o acolhimento. Ainda assim, alguns pacientes chegam visivelmente nervosos — e hoje foi o caso do Felipe.
Ele entrou na minha sala meio sem jeito, aparentando ter uns 27 anos, loiro, pele extremamente clara, com algumas sardas. Tinha um semblante preocupado, mas também aquele olhar de quem estava tentando disfarçar.
— Oi, Felipe. Pode se sentar. O que está te incomodando?
Ele deu uma respirada meio tensa, olhou para o chão, depois para mim, e soltou:
— Doutor, eu tomei antibiótico por causa da garganta, mas depois que terminei o tratamento, meu... meu amiguinho apareceu cheio de manchas vermelhas. Tô com coceira e fiquei assustado. Achei que fosse herpes...
“Amiguinho”. Essa é clássica. Tive que segurar o riso, não por deboche, claro, mas porque a forma como ele falou foi quase inocente. A tensão dele era evidente. Resolvi manter o clima leve:
— Certo, Felipe. Vamos examinar, sim. E aproveitando, você comentou que tem várias pintas. Quer que eu dê uma olhada nelas também?
Ele assentiu, um pouco envergonhado.
Provavelmente nunca fez um exame corporal completo. Muita gente adia isso por vergonha, especialmente homens mais jovens. Já estou acostumado, então tento sempre normalizar esse tipo de situação.
Fomos até a salinha de exames e pedi:
— Pode tirar a roupa, por favor. Assim consigo te examinar com mais cuidado.
Ele tirou a camiseta, os sapatos... ficou só de cueca e meia, parado, meio travado. Era nítido que estava lutando contra a vergonha.
— Felipe, preciso que tire a cueca e as meias também, tá? Para examinar a região íntima e também seus pés e pernas.
Ele me olhou com os olhos arregalados por um instante, quase como se eu tivesse pedido algo fora do comum. A essa altura, ele provavelmente está se perguntando se isso tudo é mesmo necessário. Mas é. Faz parte do exame físico completo, especialmente no caso dele.
Depois de um breve silêncio constrangido, ele tirou o restante. Fiquei de frente para ele, agora completamente despido. Como sempre, mantive minha postura profissional. Comecei o exame pelas pintas: braços, costas, pernas.
— Pode levantar os braços... vira um pouquinho... agora coloca o pé nesse banco...
Ele obedecia, embora ainda parecesse estar com a alma fora do corpo. Pobre cara. Aposto que vai sair daqui e rir sozinho da situação. Mas estava tudo dentro da normalidade. Nenhuma pinta preocupante.
Por fim, fui para o motivo principal da consulta.
— Agora vamos examinar seu “amiguinho”, Felipe. Pode puxar a pele, por favor?
Ele o fez, visivelmente desconfortável, mas seguiu direitinho as orientações. Olhei atentamente.
— Sim, isso é herpes genital. Não se preocupe, é mais comum do que você imagina. Vou te passar uma pomada e um antiviral, e em poucos dias isso deve melhorar.
Felipe pareceu aliviado. E alívio é sempre um bom sinal — significa que ele confiou em mim. Pedi que se vestisse e fui anotando a receita. Quando ele saiu do consultório, percebi um leve sorriso no rosto.
Talvez ele estivesse rindo da situação toda. Talvez estivesse apenas feliz por saber que era tratável. O importante é que ele veio. Se cuidar é um ato de coragem, principalmente quando envolve vulnerabilidade.
Se quiser, posso também escrever a história do ponto de vista de Felipe como diário ou até mesmo fazer uma versão mais cômica. Só pedir!
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