Causo
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O Vestiário dos Rústicos – Parte 7: A Pescaria Aérea
Tudo começou com uma ideia do João, o Tripé, numa sexta-feira suada, enquanto ele secava o sovaco com a camiseta do uniforme.
— E se a gente for pescar no fim de semana?
— Pescar onde? — perguntou Odair, tirando o chinelo com o pé e cutucando o dedão.
— Lá em Barra do Turvo. Tem um rio que só dá monstro.
— Mas é longe pra desgraça — disse Ricardo. — Quatro horas de estrada.
— É aí que tá a mágica... — João fez suspense. — Meu cunhado tem um teco-teco. Leva a gente em 40 minutos.
Silêncio.
Lucas, o Amendoim, franziu a testa.
— Teco-teco tipo avião? Avião pequeno?
— Isso. Voa baixo, balança um pouco... mas vai que é um tiro. Leva até cinco pessoas.
— Tem banheiro? — perguntou Odair, já com preocupação legítima nos olhos.
— Claro que não, né, Odair. É um avião, não uma suíte do Hilton.
Odair hesitou, mas o espírito de aventura venceu o intestino.
— Tô dentro. Mas levo meu rolo de papel. Vai que...
O Voo da Morte Lenta
Sábado, 6h da manhã. Lá estavam os quatro: mochila, vara de pesca, isca artificial e um cooler lotado de cerveja quente. Subiram no teco-teco do cunhado do João, que se chamava Elizeu e já chegou mascando fumo e dizendo:
— Se bater enjoo, mirem pro lado da mata. O resto eu resolvo no tranco.
O avião parecia feito de papelão com motor de liquidificador. Balançava antes mesmo de decolar.
João foi na frente com Elizeu. Atrás, amontoaram-se Ricardo, Lucas e Odair, com a mochila de um empurrando o joelho do outro. O ar era quente, a janela só abria dois dedos e o motor parecia um liquidificador engasgado.
Dez minutos de voo e Ricardo já suava:
— Esse bicho tá voando ou pulando cerca?
Lucas segurava firme o banco:
— Eu devia ter vindo de ônibus. Pelo menos cê morre no chão.
Mas Odair... Odair estava em silêncio. Com os olhos fechados e a barriga fazendo barulhos de filme de terror.
— Odair? — perguntou Lucas.
— Deu ruim.
— Deu ruim tipo quê?
— Tipo... tô pra estourar. Preciso cagar. Agora.
Ricardo virou com dificuldade, já desesperado.
— Tá de sacanagem. Não tem nem balde aqui, cara!
— Eu avisei! Eu caguei sempre às 7h10. Já são 7h32. Tô FORA DO HORÁRIO.
João gritou lá da frente:
— Segura, Odair! Falta 20 minutos pra chegar!
— Vinte minutos é o tempo exato do meu terceiro estágio! Tá vindo com força e sem trégua!
Solução de Emergência
Lucas, tentando salvar a humanidade, puxou a mochila e vasculhou:
— Tem um saco plástico do supermercado...
— Tem um copo térmico...
— Tem um tupperware vazio com tampa de rosca...
Odair suava como se estivesse em um campeonato mundial de resistência anal.
— Dá o tupperware! Rápido!
Ricardo segurou o ombro dele:
— Tu vai cagar dentro do avião?
— Ou isso... ou nas minhas calças. Escolhe.
Lucas virou pro lado. João só gritava:
— SE FOR CAGAR, PELO AMOR DE DEUS, FAZ ISSO LONGE DA CABEÇA DO PILOTO!
E então aconteceu.
Odair tirou a bermuda ali mesmo, com o equilíbrio de um malabarista, apoiado nos ombros dos colegas e com o tupperware posicionado como única barreira entre a dignidade e o caos.
O momento foi silencioso... até não ser mais.
— PRRROOOOT
— GLUB GLUB
— PFFFZZZZZ
O avião inteiro virou uma zona de guerra. O cheiro subiu como gás venenoso em câmera de tortura.
Lucas começou a vomitar. Ricardo chorava de rir e de raiva ao mesmo tempo. João gritava pro cunhado:
— ELIZEU, ACELERA ESSA PORRA QUE O CAGÃO ATIVOU O MODO BOMBÁSTICO!
Pouso Forçado
Dez minutos depois, com o piloto tossindo e o avião quase planando no desespero, pousaram numa clareira improvisada. Todos saíram tropeçando na grama, ofegantes, pálidos, traumatizados.
Odair saiu com o tupperware fechado como se carregasse uma bomba nuclear. Enterrou ele num buraco no mato e disse:
— Enterro digno. Aqui jaz o voo 666.
João, ainda passando mal, apontou:
— Tu cagou num pote de lasanha, Odair. Minha esposa ia usar isso pra marmita.
— Melhor assim. Agora tem história.
Epílogo
Eles não pescaram nada naquele dia. Choveu. O rio tava cheio. Mas a viagem virou lenda.
Na segunda-feira, o vestiário inteiro já sabia do “voo do tupperware”. E, embora Odair já fosse o Cagão oficial, agora ganhou um novo título entre os rústicos:
“O Cagão Aéreo” — o único que fez o céu feder.”
Se quiser, o próximo episódio pode ser a revanche: Lucas passando mal no meio de um plantão e tentando esconder que teve um "acidente sólido". Quer?
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