Causo
"O Resort, o Peixe e o Revezamento da Vergonha"
Todo mundo achou que era uma ótima ideia: “Vamos pro resort, passar uns dias de rei, só os homens da família! Relaxar, comer bem, curtir a piscina e dar risada.”
Pai, filho, tio e sobrinho. Quatro gerações quase, num mesmo carro, indo pro descanso merecido.
A viagem foi cheia de piada ruim do tio, música alta do sobrinho adolescente, conselhos de vida do pai e bronca do filho no GPS porque ele dizia que sabia o caminho “de cabeça”. Tudo dentro do esperado.
Chegaram, se instalaram, acharam o quarto ótimo — um suíte pra quatro com banheiro espaçoso (e esse detalhe vai ser importante logo, logo). Até então, tudo tranquilo.
E então veio o jantar.
Buffet liberado. Peixe grelhado com um tal molho de maracujá com crosta de castanha. Todo mundo pegou — alguns voltaram pra repetir.
— “Olha isso aqui, menino! Coisa de outro mundo! Nunca comi um trem desse!” — disse o tio, já no segundo prato.
O pai, mais contido, elogiava a textura. O filho dizia que tava “gourmet”. O sobrinho tava ocupado demais postando no Instagram com a legenda “Comendo igual magnata 😎”.
Terminaram o jantar cheios e felizes, foram dormir.
Só que a alegria… durou até meia-noite.
O primeiro a cair foi o pai. Acordou suando, apertando a barriga e correndo pro banheiro com cara de quem viu a morte.
— “Sai de baixo!”, ele gritou, e fechou a porta.
Dez minutos depois, o sobrinho começa a empalidecer.
— “Tô passando mal... ô vô, termina logo aí, pelo amor de Deus!”
— “Não posso! Tô preso aqui! Tô sofrendo! Esse peixe me destruiu!”
Enquanto isso, o tio já tava sentando na beirada da cama, calado, respirando fundo.
— “Vai dar ruim... vai dar ruim...” — e deu.
Começou o revezamento olímpico.
O pai mal saía, o sobrinho entrava. O tio batia na porta pedindo urgência. O filho, que até então tava bem, ficou de zoeira:
— “Vocês são fracos! Estômago de gelatina! Eu tô de boa!”
Não durou 15 minutos.
De repente, lá estava ele, de cueca, ajoelhado no chão, segurando um balde:
— “Acho que comi a espinha errada…”
Bluuurrrgghhh.
O banheiro virou campo de guerra. Papel higiênico acabando, Gatorade no gargalo, todo mundo suando, trocando lugar a cada 10 minutos. Um cagava, outro vomitava, um gemia e o outro gritava “fecha a porta que o cheiro tá matando!”.
Teve um momento em que os quatro estavam sentados pelo quarto: um no chão, um na cadeira, outro deitado de bruços, e o último encolhido no canto, todos dizendo variações de:
— “Nunca mais eu como peixe fora de casa.”
— “Pelo amor de Deus, cadê o sal de fruta?”
— “Acho que minha alma saiu e voltou.”
— “Se eu sobreviver, vou virar vegetariano.”
No dia seguinte, quando foram tomar café da manhã, o garçom perguntou educadamente:
— “E aí, senhores, tudo certo?”
E o tio respondeu:
— “Só se for com chá e bolacha de água e sal. Porque peixe, meu amigo... peixe, nunca mais.”
Saíram do resort mais magros, mais fracos… e com um laço familiar mais forte do que nunca.
Afinal, quem já viu o pai, o tio e o sobrinho vomitando em revezamento, já viu tudo.
Se quiser, posso transformar isso numa versão contada pelo tio caipira, pelo filho adolescente, ou até numa história em quadrinhos com falas separadas. Só avisar! 😄
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