Causo
Uma noite nada elegante”
Querida, você não vai acreditar no que aconteceu comigo neste último final de semana.
Como você sabe, estou namorando o Edmar. Sim, aquele rapaz do interior, que trabalha com criação de gado e anda com bota até no shopping. Pois bem... apesar do nosso universo ser um tantinho diferente, ele é um doce. Tem um coração enorme, é atencioso, e fala comigo com uma gentileza que me desmonta, mesmo quando ele solta um “nóis vai” ou um “ocê tá bão”.
Completamos dois meses juntos, então decidi fazer uma surpresa: reservei um fim de semana em um resort maravilhoso, com spa, pensão completa, vista para as montanhas… tudo impecável.
Chegamos e, claro, Edmar parecia um peixe fora d’água.
— “Credo, muié... esse povo aqui parece até que não sua! Tudo limpo demais…” — ele sussurrou pra mim, olhando o saguão com medo de sujar o chão com a bota.
Achei adorável.
No jantar, apresentaram-nos um buffet sofisticadíssimo. Entradinhas com nomes franceses, saladas exóticas e, como prato principal, um belíssimo filé de peixe com molho de maracujá. Elegantérrimo!
Edmar olhou o prato, deu uma fungada e perguntou baixinho:
— “Ô, amor... esse trem aqui é peixe mesmo? Tá com cara de comida que nem viu a panela.”
Eu apenas sorri, tentei incentivá-lo:
— “Querido, prove! É leve, refinado. Você vai gostar.”
Comemos. Ele limpou o prato, literalmente. Fez até barulho com o garfo, que me fez fechar os olhos de leve, fingindo que não vi.
Voltamos ao quarto… e foi aí que tudo... degringolou.
Pouco tempo depois, comecei a sentir uma cólica terrível. Fui ao banheiro discretamente, tentando manter a elegância, mas... confesso, foi um desastre. O peixe estava, digamos, revoltado dentro de mim.
Fiquei um tempo lá dentro, lutando entre a dignidade e a descarga. Quando saí, pálida, Edmar olhou pra mim com aquela carinha inocente e disse:
— “Ocê tá meio esverdeada, sô… aconteceu o quê?”
Eu mal consegui responder.
E então, como num ato de solidariedade do destino… Edmar começou a suar. Literalmente.
— “Ai meu Deus do céu... agora fui eu também… Onde é que tá o trono desse quarto?”
Correu pro banheiro, derrubou a toalha, quase escorregou no tapetinho. E dali em diante, foi o caos.
Nós passamos a madrugada revezando o vaso sanitário.
Ele suando igual boi em ladeira, eu abraçada a uma toalha, tentando não chorar. Ele fazia sons que ecoavam. Sabe? Aqueles sons... não tão nobres.
E a cada novo retorno dele ao banheiro, ele soltava:
— “Esse peixim de rico é traiçoeiro que só! Lá em casa nóis frita tilápia e ninguém morre, ora pois…”
Eu queria rir e chorar ao mesmo tempo.
Teve um momento em que ele, sentado no chão de cerâmica gelada, olhou pra mim com os olhos vermelhos e disse:
— “Se ocê ainda quiser ficar comigo depois dessa noite... ocê é pra casar, viu?”
E por incrível que pareça... naquele instante, eu tive certeza que sim.
Amanhecemos com olheiras, hálito de Gatorade e alma lavada — literalmente.
Moral da história?
O amor verdadeiro não nasce no jantar à luz de velas, querida.
Ele sobrevive no banheiro compartilhado, com cheiro de desespero no ar e um matuto dizendo “perdão pelas flatulência, amorzinho”.
E eu?
Nunca mais como peixe com molho de maracujá.
Se quiser, posso fazer a versão do Edmar contando pros parceiros da roça, cheio de causos e jeitinho matuto, rindo da "minina fina que quase desmaiou na privada". É só falar! 😄
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