Causo
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Cidinho e o Dedo do Destino"
Cidinho era um rapaz de 27 anos, gordinho simpático, tímido, e com um medo crônico de duas coisas: dentista e qualquer coisa que envolvesse o reto. Só que o corpo humano, essa máquina traiçoeira, resolveu pregar uma peça: cinco dias de sangramento retal.
— Vai passar — pensou ele no segundo dia.
— Vai passar, né? — já implorava no quarto.
No quinto, chorando de cócoras, aceitou o destino: era hora de conhecer um proctologista. E não qualquer um — um jovem médico, recém-saído da embalagem, óculos na ponta do nariz e uma calma assustadora no olhar.
— Bom dia, jovem. Em que posso ajudá-lo?
Cidinho foi direto, sem poesia:
— Doutor, tô sangrando pelo toba.
O médico assentiu com a serenidade de quem escuta isso oito vezes por dia e soltou a frase que gelaria a espinha de qualquer um:
— Vamos examinar?
A sala tinha um biombo, uma maca com escadinha e o ar-condicionado no nível "Pólo Norte". O médico apontou:
— Suba ali, abaixe as calças e cueca, fique com os joelhos e cotovelos apoiados. Isso, de ladinho...
Cidinho paralisou. Aquilo era mais íntimo do que muitos dos relacionamentos que já teve.
— Doutor... tem que ser de quatro mesmo?
— É necessário, jovem.
E foi. Cidinho ficou na posição da entrega total, encarando o chão gelado e repensando todas as escolhas da vida. Quando sentiu o toque do dedo enluvado, deu um leve pulo — não pela dor, mas pelo susto da dignidade escapando pela porta.
Mas o pior ainda estava por vir.
— Agora vamos usar o retoscópio — disse o médico como quem anuncia um garfo num rodízio de massas.
Cidinho não sabia o que era, mas descobriu segundos depois: um tubo cilíndrico do tamanho de um controle remoto, entrando lentamente por onde só deveriam sair coisas. A dor foi real. Ele soltou um "Opa! Nãoooo..." que ecoou no prédio. O médico, impassível, como um monge tibetano, respondeu:
— Calma, jovem. Incomoda, mas é necessário.
“NECESSÁRIO?”, pensou Cidinho, enquanto gemia num tom que misturava dor e indignação. Quando o aparelho chegou até o fim, sentiu que viu o passado, o presente e o CPF do proctologista ao mesmo tempo.
E, assim como começou... acabou. O médico retirou o aparelho, disse "Pronto", e mandou ele se vestir com a naturalidade de quem acabou de pedir um café.
Cidinho saiu devagar, como um cavalo de parada militar, olhando para o rosto do médico, que continuava com a mesma cara calma de quem estava apenas cumprindo seu dever.
Na saída, prometeu duas coisas a si mesmo:
-
Nunca mais julgar quem reclama do exame de próstata.
-
Marcar o próximo check-up com um psicólogo primeiro.
E assim terminou o capítulo mais íntimo da vida de Cidinho. Ou como ele chama até hoje: "A Guerra dos Traseiros - Episódio I: A Ameaça Retal".
Se quiser, posso fazer mais crônicas com Cidinho enfrentando outros medos ou situações constrangedoras com humor. Quer?
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