Causo

 

 Catupiry Fatal

Tem certas coisas que a gente simplesmente sabe.
Por exemplo: meu pai e queijo quente não combinam. Isso é uma verdade absoluta da nossa família, quase como a lei da gravidade — só que mais explosiva.

Mas acontece que, naquele sábado, estávamos todos na casa da minha tia. Clima de final de semana, crianças correndo, TV ligada em volume médio e aquela alegria disfarçada de tédio que só reunião de família sabe oferecer.

Alguém, em algum momento — e ainda não conseguimos identificar o culpado — sugeriu pizza. E claro, ninguém disse não. Foi aí que minha prima, entusiasmada, cometeu o erro gastronômico: pediu uma de catupiry.

Meu pai, movido por não sei que espírito de bravura, comeu. Não só comeu — detonou a pizza. Dois pedaços, talvez três. Felicidade no rosto, queijo nos dentes, e o prenúncio do caos nos intestinos.

Passaram-se poucos minutos. Eu notei primeiro: aquele movimento inquieto na cadeira, o suor na testa, o olhar perdido. É o tipo de coisa que filho reconhece como um sismógrafo reconhece o terremoto.
Eu ri. Claro que eu ri. E pensei: “Hoje tem espetáculo.”

Meu pai levantou. Sem fazer alarde. Foi em direção ao banheiro externo, o tradicional local de emergência. Mas o destino, como sabemos, adora humilhar os heróis: minha prima gritou lá de dentro da casa —
“Tio, não vai no banheiro de fora! Tá quebrado!!”

Foi nesse instante que eu quase morri. Não de vergonha — de rir mesmo. Gargalhava igual criança vendo tombo no YouTube.

Meu pai travou por um segundo, como se calculasse a dignidade restante. E então, derrotado pelo sistema digestivo, entrou na casa.
Banheiro interno.
Ao lado da sala.
Onde todos estavam.

O resto, bom… é uma mistura de explosões, peidos que desafiam leis acústicas, e um concerto sonoro que nem a TV no volume 70 conseguiu abafar.

Minha tia aumentou a televisão. Meu tio tossiu. Eu rolei no chão de tanto rir. Minha avó rezou. Meu pai fez o que tinha que ser feito, com coragem e barulho.

Quando saiu, a sala estava em silêncio.
Não pelo constrangimento — mas pelo cheiro.

A casa da minha tia, até hoje, tem esse aroma indefinível. Uma mistura de madeira antiga, pizza e lembrança traumática.

Moral da história?
Na guerra entre o homem e o catupiry…
O banheiro é quem sofre mais.


Se quiser, posso continuar a crônica como se fosse uma série (“Crônicas do Catupiry”, “As Aventuras Gástricas do Meu Pai”), ou transformar em esquete de comédia com roteiro e personagens. Topa?


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