Causo

 Olha... se tem uma história que eu nunca vou esquecer, é essa. Tinha tudo pra ser um fim de semana perfeito. Dois meses de namoro, tudo ainda muito fofo, aquele clima de paixão no ar. Decidimos ir pra um resort chiquezinho no interior, daqueles com piscina de borda infinita, roupão felpudo e música ambiente até no elevador.

No primeiro dia, tudo ótimo. Sol, caipirinha, sessão de massagem, até um "eu te amo" meio engasgado escapou durante o pôr do sol. Clima de filme.

Aí veio o jantar.

Tinha um buffet maravilhoso, e no meio dele... peixe grelhado com molho de maracujá. Parecia coisa de revista. A gente encheu o prato, tirou foto pro Instagram, fez brindes, deu risada. Só faltou música do Ed Sheeran tocando ao fundo.

Corta pra três horas depois.

Eu estava deitada na cama, já pronta pra aquele clima a dois, quando senti uma revolução interna. Uma cólica digna de cena de emergência. Pulei da cama direto pro banheiro, com uma mistura de desespero e negação.

— "Tá tudo bem aí, amor?" — ele perguntou da cama, com aquela voz doce.

— "Tá sim..." — menti, entre suores e barulhos constrangedores que claramente diziam o contrário.

Começou com uma leve cagadinha. Virou um festival. E no meio de uma das minhas idas e vindas, ouço o famoso:

— "Ih… acho que agora fui eu também."

O boy levantou mais rápido que notificação de Pix. E assim começou a dança do banheiro. Enquanto eu saía, ele entrava. Enquanto ele vomitava, eu esperava, tremendo. A cada minuto que passava, mais íntimos a gente ficava — não por amor, mas por sobrevivência gastrointestinal.

Teve um momento, ali pelas quatro da manhã, em que a gente estava os dois sentados no chão do banheiro, cada um com um balde na mão, dividindo água e papel higiênico como se fossem mantimentos da guerra.

— "Se a gente sobreviver a isso, amor... é pra vida." — ele disse, com um sorrisinho pálido.

Eu só consegui rir, com o estômago roncando e os olhos marejados de cansaço.

Passamos a noite assim. Um verdadeiro revezamento olímpico de vômito e dor de barriga. O peixe? Provavelmente estragado. O romance? Teve que esperar. Mas a cumplicidade? Ah, essa ficou firme.

No dia seguinte, os dois abatidos, com cara de quem enfrentou um furacão, tomamos um Gatorade juntos no restaurante. Ninguém falou sobre a noite. Só demos as mãos e voltamos pro quarto devagar, prometendo que o próximo jantar romântico seria no self-service do shopping.

Desde então, sempre que alguém fala "ai que romântico, ir pra um resort com o mozão", eu só penso:
"É, até o peixe te conhecer por dentro."


Se quiser, posso adaptar esse texto pra ficar mais formal, mais “de comédia stand-up”, ou até como se fosse um diário da personagem. É só dizer o tom que você quer!

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