Ca7si

 

Meu pai sempre teve um relacionamento conturbado com queijo quente, algo que parecia ser uma sombra em sua vida, um dilema constante. Mas, naquela noite, algo inesperado aconteceu. Ele aceitou a pizza de mussarela com certa relutância, como se estivesse se preparando para enfrentar um inimigo silencioso. Tudo parecia normal, mas eu sabia que algo estava por vir.

Estávamos na casa da minha tia, em uma noite como qualquer outra, até que a decisão de pedir pizza alterou o curso dos acontecimentos. Minha prima, sem pensar nas consequências, fez seu pedido: uma pizza de catupiry. Outras opções foram cogitadas, mas o destino já estava selado. O que aconteceu a seguir não foi mera coincidência, foi uma tragédia anunciada.

Meu pai devorou a pizza de catupiry como se fosse a última refeição antes do fim do mundo. Eu pude ver em seu olhar um misto de prazer e apreensão. O tempo parecia se esticar à medida que uma sensação estranha pairava no ar. Ele começou a se mover de forma inquieta, e eu, já desconfiado, não pude deixar de observar, certo de que o desastre estava se aproximando. A tensão estava no ar, e eu não conseguia conter o riso nervoso.

Então, sem aviso, ele se levantou e se dirigiu para fora da casa. Eu, com um pressentimento, segui seus passos, como uma sombra em busca de respostas. Quando cheguei ao lado de fora, meu coração disparou ao ver o olhar desesperado de meu pai. Ele me olhou com um semblante abatido e disse, quase em sussurro: "fudeu... vou ter que usar o banheiro..."

Foi como se o mundo tivesse parado naquele momento, uma frase simples, mas carregada de uma urgência que eu não poderia ignorar. Meu pai, um homem forte, agora vulnerável diante do inevitável. O banheiro, que deveria ser um refúgio, estava fora de serviço. O caos estava prestes a se instaurar.

A voz de minha prima cortou o ar: "Tio, não usa o banheiro de fora, tá quebrado!" O som de sua advertência ecoou como um grito de alerta, mas já era tarde demais. Eu me vi paralisado, preso entre o desespero e a tentativa de conter uma risada que insistia em escapar, mas o que eu não sabia é que o pior ainda estava por vir.

Meu pai entrou em casa, seu rosto vermelho como um tombo iminente. O caminho até o banheiro parecia interminável. Cada passo era uma marcha silenciosa para o abismo. Ao entrar, o som que se seguiu foi um golpe de realidade. Os sons abafados, as explosões que ecoavam nas paredes da casa, eram como trovões em uma noite silenciosa. Minha tia, em um esforço desesperado, tentou aumentar o volume da TV, mas não havia como escapar da verdade. O barulho da tragédia foi inescapável.

E então, quando ele saiu do banheiro, o olhar dele, mais profundo do que qualquer palavra poderia expressar, dizia tudo. A casa, antes cheia de risos e alegria, agora estava imersa em um silêncio denso e pesado, como se as paredes carregassem o fardo de uma calamidade.

A casa da minha tia ainda carrega os ecos daquele evento, uma lembrança pungente que o tempo não conseguiu apagar. O cheiro, a tensão, tudo permanece ali, gravado em cada canto, como um fantasma do passado que nunca poderá ser esquecido.

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